CUSTÓDIO ÂNGELO VIEIRA
(BRASIL – MINAS GERAIS)
Nasceu em Rio Casca, em 1934, tendo iniciado o curso primário em São Pedro dos Ferros, para onde se transferiu a sua família. Vindo para Ponte Nova, ali fez os cursos ginasial e científico; concluíndo-o em 1957.
Em 1959, ingressou na Faculdade de Direito da Unversidade de Minas Gerais; durante os estudos exerceu cargos de relevo na política universitária.
Iniciou a carreira literária publicando versos no jornal do Colégio “D. Helvécio”, de Ponte Nova, onde foi presidente do grêmio literário ali fundado pelo Pe. Heriberto Schmidt.
“Roteiro da Tristeza” pertence à fase romântica de sua evolução literária. Muitos de seus poemas, escritos há vários anos, mostram a sua vocação acentuadamente lírica.
Embora abordando os antigos temas amorosos, o jovem poeta dá-lhes um novo sentido de vivência e emoção.
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VIEIRA, Custódio Ângelo. ROTEIRO DA TRISTEZA. POEMAS. Prefácio: Alberto Deodato. Belo Horizonte: DIFUSÃO PANAMERICANA DO LIVRO, 1952. 90 p. No. 10 061
Exemplar da biblioteca de Antonio Miranda, doado pelo amigo (livreiro) Brito, em outubro de 2024.
INQUIETUDE
Amar-te ! Amar-te ! E não saber de nada,
Do sonho incerto que teu peito agita !
Até que ponto o teu olhar de fada
Há de levar-me nesta busca aflita !
Tomo-te as mãos... ai, como estão geladas !
Busco-te os olhos... mas tu não me fitas !
Por que, meu Deus, te alheias tão calada,
E sempre, sempre meu olhar evitas ? !
Ah! meu amor, és tão formosa... deixa,
Sem ar de enfado, sem nenhuma queixa,
Que acaricie essas espáduas nuas!
Que após o foComgo sempre volta a calma,
E eu dou-te tudo ! Só não dou minh´alma,
Porque de há muito que minh´alma é tua !
B. Horizonte, 1959.
ACRÓSTICO
Compra-se tudo na vida.
Eu sei, tu o cabes, Celeste.
Louca carícia fingida,
Embora o mundo proteste,
Sempre nos vende a partida.
Tudo se compra, Celeste,
E não compramos a Vida !
Ponte Nova, 1955
TRISTE VERDADE
Quão bela é a vida
P´ra quem a ferida
Da idade não sente !
Só risos, só flores,
Só ternos amores
Enlevam a mente.
Mas correm os anos,
E os cruéis desenganos,
— Destêrro do crente,
Quais setas ligeiras,
Partindo certeiras,
Penetram na gente !
Só então percebemos
Que tudo o que temos
Não passa de trapos,
De tristes farrapos,
Legados da vida,
Tão bela e querida.
Que um dia vivemos !
Meu Deus, quanta pena,
Olhar p´ra o passado,
Sumido, apagado,
Na noite que é plena
De prantos, de ais,
Gritando, gritando,
E o grito aumentando :
Não volto jamais !
Ponte Nova, 1952.
TROVAS
De conhecer bem o amor
O mundo todo se ufana.
Mas quanto a êle seu afirmo
Que muita gente se engana.
Para uns — coisinha adorável,
P´ra outros — algo odioso.
P´ra o desgraçado é um nada,
É tudo p´ra o venturoso !
Embora não o conheça,
Vou definí-lo, contudo:
Amor é tudo que é nada,
Amor é nada que é tudo !
Fazenda da Floresta, 1952.
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Página publicada em outubro de 2024
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